Na virada do milênio, encontrar um disco de rap baiano por aí era uma raridade. Eles não existiam até mesmo na casa de pessoas ligadas à cena hip hop, que na época já era bem representativa, com vários grupos atuando pela cidade, sobretudo nos bairros da periferia.
Ou melhor, existiam em experiências pontuais, como o pioneiro trabalho da extinta banda Elemento X, Genocídio (1999), apontado pela maioria dos rappers como um divisor de águas.
Formado por Gomez, Dinho e pelo DJ Edilson, o Elemento X mostrou com seu disco independente que era viável produzir, gravar e mixar. “Foi o disco que mudou a timbragem do rap local e deu um pouco de ânimo à galera, tanto pela qualidade musical quanto pela produção”, afirma Rangell Blequemobiu, 33, que, ao lado de Coscarque, 28, forma o Versu2.
Novas possibilidades de gravação fizeram crescer o movimento
De lá para cá, muita coisa aconteceu. Surgiram vários grupos, festas específicas de hip hop e, em tem pela popularização da internet, novas condições de gravação e divulgação. Como Rangell, por exemplo, que teve um grupo anterior, o Testemunhaz, pelo qual chegou até a lançar um disco em 2004, mas tudo com muita dificuldade.
“Acho que melhorou muito. Agora há uma preocupação em ser mais profissional”, diz Rangell, que pretende lançar até o final do ano o CD do Versu2, pelo selo que comanda, o Positivoz. O Positivoz já conseguiu colocar outros dois álbuns na praça: Entreversos e prosas, do rapper Daganja; e Acria rebelde, do grupo 157 Nervoso.
O último chegou da fábrica há um mês e está sendo distribuído na base do mão em mão. O desejo, explica o MC Diego 157, é lançá-lo numa festa no Pelourinho Cultural, no final do mês. Diego, 25, acredita que o disco foi gravado num bom momento. “No começo, éramos muito verdes”, resume o rapaz, que mora na Cidade Baixa e diz que o grupo apresenta uma visão
crítica da vida de seus integrantes.
Grupo Opanjé se prepara para lançar o seu primeriro disco
Mesmo destacando o aumento considerável no número de produtores e acesso às ferramentas de gravação, ele é cético quanto a viver de rap em Salvador. “Aqui, o mercado fonográfico é todo voltado para axé e pagode”, reclama. MC do grupo Opanijé, Lázaro Erê, 30, também acha que a cena mudou bastante.
Acompanhando o hip hop desde o começo, ele diz que, há 15 anos, quando o gênero já estava estourado no Brasil, muito pouco acontecia por aqui. Depois de uma experiência na Erê Gitolú, Lázaro criou em 2005 o Opanijé, que também prepara o disco de estreia. “Agora existe rádio, internet e até a pirataria. As pessoas já sabem o que é rap, não o confundem mais com funk”, diz.
Outro que está em estúdio é Lucas Kintê, 21. Vencedor da etapa Bahia do Festival de Rap Popular Brasileiro - promovido semana passada no Pelourinho pela ONG carioca Cufa -,o rapper espera ganhar mais visibilidade com a premiação. Irá representar o estado na final no Rio de Janeiro, dia 4 de outubro.
“Quero acreditar que o rap vai acontecer e que vai ser meu sustento”, diz Lucas. Por enquanto, ele trabalha com manutenção de computadores e se prepara para fazer vestibular. Lucas, assim como Diego e outros na cidade, está gravando no estúdio do DJ Leandro, em Massaranduba.
Aos 26 anos, Leandro é um bom exemplo de como vive o pessoal do rap em Salvador. Produz discos e festas e toca com vários grupos, de rap e também de reggae e pop. “Ainda tem as velhas dificuldades, mas nosso trabalho está tendo uma boa aceitação”, comemora.
(Notícia publicada na edição do dia 02/08/2009 do CORREIO)
Fonte:Correio 24 Horas
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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